Giovanni Giani - The morning of roses (1906)

Giovanni Giani – The morning of roses (1906)

Recortada ao fim de um jardim, anichada, estás como ontem, como se hoje chovesses mais de cem vezes. E brincas com mãos de criança. Empilhas tristezas nos folhos curvados do bibe, imbrincas as minhas memórias nas tuas, e páras. E sabes que não sou ninguém, e sabes que se ninguém aqui nada arrancar do meu peito, seguir-se-ão as crianças de todos, do tudo e do nada, aquelas que jorram sorrisos num morno cadinho de amarrotado cansaço.
E sentam-se ali na curva do mundo. E creio que vão brincando enquanto escrevo a história de um beijo eterno: o mais seco, o mais frio, o mais sério.
E sentam-se ali na fúria abrigada do mais longo sono do ano.
Não tremo. Por certo vou encontrar-te, nem que a floresta te tenha por prosa, nem que dos fetos saias já prenhe, nem que os muros abracem, além das árvores, as lápides; nem que os nichos abriguem figuras de louça furtadas no tempo, a quem os seus seis irmãos cingiram os braços para somar o teu corpo de beijos daninhos.
Vou encontrar-te nesse jardim encorpado de rimas. Nem que tu distes distâncias infindas, vou crescer nos teus lábios. Nem que me avistes e fujas, eu vou enlutar-te.
Vou por certo encontrar-te enlutada, nem que te faças de traços e farsas, nem que disfarces os passos, nem que te cubras de embaraços.