Quem tem por amigas as fadas

Reparto hoje o teu ninho por todos os pássaros novos, os que entram sem pedir, sem perguntas truncadas ou romarias de vergonha.
Em mansardas, reparto o teu nome por todos os nichos de chuva atrevida.
Chegar é um logro. Tu nunca chegaste, mas envelheceste enxugos de fogo.
Reparto hoje o teu modo de crescer. É por gula que te reparto pelas mãos, e faço-o antes de partir. Mas se partes também, vais sem a benção que firma o teu olhar no meu. Vais sem assombro ou intenção. Precede o teu voo um entristecido enleio no meu corpo.

Quem tem por amigas as fadas, não desmancha os sonhos como pétalas raras – que, sendo raras, serão também irrisórias. Quem as tem por amigas, não finda sem ver no seu rumo dois braços, sem ler nesses braços a sombra da mão que contorce as letras de um nome.

E quem tem por feitiço umas sardas, repousa em capa de asperges tecida em fileiras de amor formidáveis.
E este amor é redondo, entardece em afagos. Envolve e liberta a face de longos e púberes gelos. Antes de unir, reparte os teus medos, e lança um laço de paz que logo termina. Termina iludido. Termina num gato correndo as mansardas.