Selemos a amizade com o sangue do teu pulso

Selo I

Selemos a amizade com o sangue do teu pulso. Sorvamos no bordel o bordão envolto em mel. Bebamos o Xairel! À falta de batinas, toquemos concertinas.

Arfemos o rodilho d’alfazema. Durmamos vinte anos, entoando um nu poema. Façamos brilho ardente na brisa deste mofo. Comamos o sofisma, salteado em estupro fofo. Dancemos o carisma do carente.

Que morra virgem a roseira! Profundamente só e bem solteira. Que morra o sonho d’ontem, rimando anzóis d’amor à noite d’hoje.

Matemos esta noite, e nos vinguemos. Bailemos em furiosa vertigem, rasgando o teu vestido, despindo-o de tudo o que sopraste ao meu ouvido.

 

Selo II

Morreu a sombra do dia. Ardeu de vagares em este ninho, rezando à porta esguia, sumindo num acre d’arrelia. Corre agora ao pé dos filhos, ao pé da noite afagada e reerguida da princesa já vencida, refeita em volta do lamento que está quente, insistente, guardando o sono estarrecido.

Nada nos sobra. Nem o vivido.

Fiquemos nós órfãos desta mansão de morcegos. Cuidemos de rostos pueris, filhotes de anis, felizes nas rimas frias do Verão. Há mais caminho a temer que marés a encher. Há mais vinho a correr no redil, que água no rechão do ribeiro. Selemos a amizade primeiro.