A tua moral é directa,
não sabe que a morte é discreta e letal:
dorme em bons divãs,
de alma repleta
ensona as manhãs da calma incerta.
A tua moral bate à porta
é toda de gritos e frios;
despede-se cedo:
é toga na horta, salgado segredo
surdina de ouvido,
pregão repetido
dito em boca torta.
A tua moral não é recta
pois fala tão cedo
que abre passagem
sem pedir o espelho:
encurva no medo
e logo resvala
e fala sem gala.
A tua moral é redonda
e vai nesta vaga
p’ra vir nesta onda,
é toda igual e completa
mas nunca m’infecta.